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Ah, como era impossível
suster a forma das rosas!
*Cecília Meireles*
Da Saudade....
A natureza da saudade é ambígua: associa sentimentos de solidão e tristeza – mas, iluminada pela memória, ganha contorno e expressão de felicidade. Quando Garrett a definiu como “delicioso pungir de acerbo espinho”, estava realizando a fusão desses dois aspectos opostos na fórmula feliz de um verso romântico.
Em geral, vê-se na saudade o sentimento de separação e distância daquilo que se ama e não se tem. Mas todos os instantes da nossa vida não vão sendo perda, separação e distância? O nosso presente, logo que alcança o futuro, já o transforma em passado. A vida é constante perder. A vida é, pois, uma constante saudade.Há uma saudade queixosa: a que desejaria reter, fixar, possuir.
Há uma saudade sábia, que deixa as coisas passarem , como se não passassem. Livrando-as do tempo, salvando a sua essência da eternidade. É a única maneira, aliás, de lhes dar permanência: imortalizá-las em amor . O verdadeiro amor é, paradoxalmente, uma saudade constante, sem egoísmo nenhum.
*Cecília Meireles*
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Hoje eu queria estar entre as nuvens, na velocidade das nuvens, na sua fragilidade, na sua docilidade de ser e deixar de ser.
Livremente. Sem interesse próprio. Confiantes. A mercê da vida. Sem nenhum sonho de durarem um pouco mais, de ficarem no céu até o ano 2000, de terem emprego público, férias, abono de Natal, montepio, prêmio de loteria,discurso à beira do túmulo,
nome em placa de rua, busto no jardim… (Ó nuvens prodigiosas, criaturas efêmeras que
estais tão alto e não pretendeis nada, e sois capazes de obscurecer o sol e de fazer frutificar a terra, e não tendes vaidade nenhuma nem apego a esses acasos!)
Hoje eu queria andar lá em cima nas nuvens,
com as nuvens,
pelas nuvens,
para as nuvens…
*Cecília Meireles*
*Cecília Meireles*
Âncora é outro falar ...
Tempo que navegaremos
não se pode calcular.
*Cecília Meireles*
Coitado de quem pôs sua esperança
Nas praias fora do mundo ...
Os ares fogem, viram-se as águas,
Mesmo as pedras, com o tempo, mudam ...
*Cecília Meireles*
Com agulhas de prata
de brilho tão fino
bordai as sedas do vosso destino.
Bordai as tristezas
de todos os dias
e repentinamente as alegrias.
Que fiquem as sedas
muito primorosas
mesmo com lágrimas presas nas rosas.
Com agulhas de prata
de brilho tão frio...
ai, bordai as sedas, sem partir o fio!
*Cecília Meireles*
[Sonhos]
Biografia
Escreverás meu nome com todas as letras,
com todas as datas,
— e não serei eu.
Repetirás o que me ouviste,
o que leste de mim, e mostrarás meu retrato,
—- e nada disso serei eu.
Dirás coisas imaginárias,
invenções sutis, engenhosas teorias,
— e continuarei ausente.
Somos uma difícil unidade,
de muitos instantes mínimos,
— isso seria eu.
Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente,
— Como me poderão encontrar?
Novos e antigos todos os dias,
transparentes e opacos, segundo o giro da luz,
nós mesmos nos procuramos.
E por entre as circunstâncias fluímos,
leves e livres como a cascata pelas pedras.
— Que mortal nos poderia prender?
*Cecília Meireles*
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...e eu sonho o meu sonho oculto
de ave triste - que nao voa,
detida a ver o teu vulto
de cetro, manto e coroa...
- e eu sonho o meu sonho oculto...
...
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Um comentário:
Bonita vc! Muito mesmo! bjs
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