"Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada, ou qualquer lago seja construído é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardim por dentro, não planta jardim por fora. E nem passeia neles".Rubem Alves

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Esperança



Arte by *Vincent van Gogh*





‎"Esperança tem Asas... 


Faz a Alma Voar,


 
Canta a Melodia mesmo sem saber a letra.



E nunca Desiste.



Nunca!



*Emily Dickinson*

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Sobre o perdão


Arte by *Henri Matisse*



Sobre o Perdão...

"Não sei se se deve perdoar sempre. Como perdoar o torturador? Como perdoar o adulto que espanca uma criança? Como perdoar a Inquisição, os campos de concentração, a bomba atômica, os homens públicos que se enriquecem à custa do dinheiro do povo que sofre e morre? 
Quem perdoa tudo é porque não se importa com nada".

*Rubem Alves* - Ostra Feliz não faz Pérola, 

domingo, 29 de dezembro de 2019

Gabriel Garcia Marques




Nothing really matters
Nothing really matters to me
Anyway the wind blows



"A vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver".

*Gabriel García Márquez*

sábado, 28 de dezembro de 2019

O duplo


Arte by *Sandorfi*

O Duplo

Debaixo de minha mesa
tem sempre um cão faminto
-que me alimenta a tristeza.

Debaixo de minha cama
tem sempre um fantasma vivo
-que perturba quem me ama.

Debaixo de minha pele
alguém me olha esquisito
-pensando que eu sou ele.

Debaixo de minha escrita
há sangue em lugar de tinta
-e alguém calado que grita.

Affonso Romano de Sant'Ana

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Passaro Azul - Charles Bukowski





                                               Arte by *Tomasz Alen Kopera*



"Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
Digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?"


*Charles Bukowiski*

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Rabindranath Tagore



Art by *Johannes Vermeer *



“A fim de animar minha tímida lâmpada
A vasta noite acende todas as suas estrelas.” 


A noite abre as flores em segredo e deixa que o dia receba os agradecimentos.

"Fé é o pássaro
que sente a luz e canta
quando a madrugada é ainda escura. " 


"O bosque seria muito triste
se só cantassem os pássaros 
que cantam melhor."


Quando morre uma flor,nasce uma semente;quando uma semente morre nasce uma planta.

E a vida continua o seu caminho,mais forte do que a morte:"


Rabindranath Tagore

domingo, 22 de dezembro de 2019

Recomece...







Art by *Camille Claudel*





Recomeça… se puderes
sem angústia e sem pressa
e os passos que deres,
nesse caminho duro do futuro,
dá-os em liberdade,
enquanto não alcances não descanses,
de nenhum fruto queiras só metade.

*MIGUEL TORGA*

sábado, 21 de dezembro de 2019

Simplicidade no olhar...











                                                          Art by *Karol Bak* 

"A vida pode ficar muito pequena quando olhamos para ela com o olhar estreito. O tédio acontece quando nos afastamos da capacidade de nos encantarmos com as coisas mais simples do mundo. Porque para se estar aqui com um pouco que seja de conforto na alma há que se ter riso. Há que se ter fé. Há que se ter a poesia dos afetos. Há que se ter um olhar viçoso. E muita criatividade." 
*Ana Jácomo*


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Poema Traduzir-se










Art by *Paul Leclercq *


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

*Ferreira Gullar*






quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Paul Éluard

Art by *Douglas Hofmann*





Nos meus cadernos de escola
no banco dela e nas árvores
e na areia e na neve
escrevo o teu nome

Em todas as folhas lidas
nas folhas todas em branco
pedra sangue papel cinza
escrevo o teu nome

Nas imagens todas de ouro
e nas armas dos guerreiros
nas coroas dos monarcas
escrevo o teu nome

Nas selvas e nos desertos
nos ninhos e nas giestas
no eco da minha infância
escrevo o teu nome

Nas maravilhas das noites
no pão branco das manhãs
nas estações namoradas
escrevo o teu nome

Nos meus farrapos de azul
no charco sol bolorento
no lago da lua viva
escrevo o teu nome

Nos campos e no horizonte
nas asas dos passarinhos
e no moinho das sombras
escrevo o teu nome

No bafejar das auroras
no oceano nos navios
e na montanha demente
escrevo o teu nome

Na espuma fina das nuvens
no suor do temporal
na chuva espessa apagada
escrevo o teu nome

Nas formas mais cintilantes
nos sinos todos das cores
na verdade do que é físico
escrevo o teu nome

Nos caminhos despertados
nas estradas desdobradas
nas praças que se transbordam
escrevo o teu nome

No candeeiro que se acende
no candeeiro que se apaga
nas minhas casas bem juntas
escrevo o teu nome

No fruto cortado em dois
do meu espelho e do meu quarto
na cama concha vazia
escrevo o teu nome

No meu cão guloso e terno
nas suas orelhas tesas
na sua pata desastrada
escrevo o teu nome

No trampolim desta porta
nos objectos familiares
na onda do lume bento
escrevo o teu nome

Na carne toda rendida
na fronte dos meus amigos
em cada mão que se estende
escrevo o teu nome

Na vidraça das surpresas
nos lábios todos atentos
muito acima do silêncio
escrevo o teu nome

Nos refúgios destruídos
nos meus faróis arruinados
nas paredes do meu tédio
escrevo o teu nome

Na ausência sem desejos
na desnuda solidão
nos degraus mesmos da morte
escrevo o teu nome

Na saúde rediviva
aos riscos desaparecidos
no esperar sem saudade
escrevo o teu nome

Por poder de uma palavra
recomeço a minha vida
nasci para conhecer-te
nomear-te

Liberdade.

Paul Éluard

trad jorge de sena

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Charles Bukowski



Art by *Edvard Munch*


"Can you remember who you were

before the world told you who you should be?”
* Charles Bukowski *

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Saramago



Arte by *Arthur E. Becher*




“Das habilidades que o mundo sabe, 

essa ainda é a que faz melhor: 

dar voltas.” 

*José Saramago*



" Aquilo a que certa literatura preguiçosa chamou durante muito tempo silêncio eloquente não existe; os silêncios eloquentes são apenas palavras que ficaram atravessadas na garganta, palavras engasgadas que não puderam escapar ao aperto da glote." 



Poema à boca fechada

Não direi:

Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.


Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.


Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.


Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.


*José Saramago*





segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Tomara....

By *Camille Pissarro*




Tomara que os olhos de inverno das circunstâncias mais doídas não sejam capazes de encobrir por muito tempo os nossos olhos de sol. Que toda vez que o nosso coração se resfriar à beça, e a respiração se fizer áspera demais, a gente possa descobrir maneiras para cuidar dele com o carinho todo que ele merece. Que lá no fundo mais fundo do mais fundo abismo nos reste sempre uma brecha qualquer, ínfima, tímida, para ver também um bocadinho de céu. 

Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem de sentir confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor. 

Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria. 

Tomara que apesar dos apesares todos, dos pesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz. 

Tomara.

*Ana Jácomo*

Sofrimento não torna ninguém melhor




By *Iman Maleki*



"Não, 
não é verdade que o sofrimento torna melhores as pessoas. 
O sofrimento frequentemente embrutece,
tira a sensibilidade, tira a esperança, torna cruéis as pessoas. 
Um Deus - ou força cósmica - que usasse o sofrimento para a evolução
 seria muito curto de inteligência - não saberia aquilo que os homens aprenderam: 
que a única força capaz de fazer as pessoas ficarem melhores é o AMOR"
 *Rubem Alves*

domingo, 15 de dezembro de 2019

Paulo Leminski


*By Istvan Sandorfi *




Subir
No raio de uma estrela
Subir até
Sumir
Subir até sumir
No brilho puro
Subir mais
Subir além
Além de toda a treva
De toda a dor
Além de toda a treva
De toda a dor
Deste mundo
Viver é super difícil o mais fundo está sempre na superfície
 *
"vazio
agudo
ando meio
cheio de tudo."


*
Ai daqueles...
ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa
 *
Alguém parado
é sempre suspeito
de trazer como eu trago
um susto preso no peito,
um prazo, um prazer, um estrago,
um de qualquer jeito,
sujeito a ser tragado
pelo primeiro que passar
parar dá azar. 
*
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
*
Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?
*
Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.
* 
pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando
* 
Inverno
É tudo o que sinto
Viver
É sucinto
* 
amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o
*
você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo

nem fale em amor
que amor é isto
*
não discuto


com o destino



o que pintar
eu assino

*Paulo Leminski*