_Ilya_Glazunov_-_Portrait_of_Dostoevsky__Paris__1968
Para W. Vaccari:
"Sou doente... Sou ruim. Não tenho atrativos. Sofro do fígado, acho. Não entendo lhufas da minha doença e não sei com certeza o que me dói. Não me trato, nunca me tratei, mas respeito médicos e a medicina. E sou supersticioso ao extremo; o bastante para respeitar a medicina. (Tenho instrução suficiente para não ser supersticioso, mas sou.) Não, senhores, se não quero me tratar é de raiva. Isso os senhores provavelmente não compreendem. Que assim seja, mas eu compreendo."
in 'Memórias do Subsolo'
"Sou doente... Sou ruim. Não tenho atrativos. Sofro do fígado, acho. Não entendo lhufas da minha doença e não sei com certeza o que me dói. Não me trato, nunca me tratei, mas respeito médicos e a medicina. E sou supersticioso ao extremo; o bastante para respeitar a medicina. (Tenho instrução suficiente para não ser supersticioso, mas sou.) Não, senhores, se não quero me tratar é de raiva. Isso os senhores provavelmente não compreendem. Que assim seja, mas eu compreendo."
in 'Memórias do Subsolo'
"Na minha opinião, se o diabo não existe, e sim terá sido
criação do homem,
este o criou a sua imagem e semelhança."
in 'Os Irmãos Karamazov'
"O ser humano é tão apaixonado pelo sistema e pela conclusão
abstrata, que é capaz de fazer-se de cego e surdo somente para justificar sua
lógica."
in 'Memórias do Subsolo'
Há no povo uma dor silenciosa e paciente; entra em si mesma
e se cala. Mas há outra que se expõe: manifesta-se por lágrimas e se expande em
lamentações. Não é mais ligeira que a dor silenciosa. As lamentações só se
acalmam, roendo e dilacerado o coração. Semelhante dor não quer consolações,
repasta-se com a idéia de ser extinguível. As lamentações são apenas a
necessidade de irritar cada vez mais a ferida."
"O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de
certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo
por gaiolas.
As gaiolas são o lugar onde as certezas moram."
As gaiolas são o lugar onde as certezas moram."
in 'Os Irmãos Karamazov'
"O céu estava tão cheio de estrelas, tão luminoso, que quem
erguesse os olhos para ele se veria forçado a perguntar a si mesmo: será
possível que sob um céu assim possam viver homens irritados e caprichosos?"
in 'Noites Brancas'
"Destruindo-se nos homens a fé em sua imortalidade, neles se
exaure de imediato não só o amor como também toda e qualquer força para que
continue a vida no mundo. E mais: então não haverá nada amoral, tudo será
permitido, até a antropofagia."
“A verdadeira dor, a que nos faz sofrer profundamente, às
vezes torna sério e constante até um homem que não reflete; o espírito pobre se
torna mais inteligente após uma dor.”
"Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só
revela aos seus amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a
si próprio, e assim mesmo em grande segredo. Mas também há, finalmente, coisas
que o homem tem medo de desvendar até de si próprio; e, em cada homem honesto,
acumula-se um número bastante considerável de coisas do gênero. E acontece até
o seguinte: quanto mais honesto é o homem, mais coisas assim ele possui. Pelo
menos, eu mesmo só recentemente me decidi a lembrar as minhas aventuras
passadas e, até hoje, sempre as contornei com alguma inquietação. Mas agora,
que não lembro apenas, mas até mesmo resolvi anotar, agora quero justamente
verificar: é possível ser absolutamente franco, pelo menos consigo mesmo, e não
temer a verdade integral? Observarei a propósito: Heine afirma que uma
autobiografia exata é quase impossível, e que uma pessoa falando de si mesma
certamente há de mentir."
in 'Memórias do Subsolo'
"O ser humano é tão
apaixonado pelo sistema e pela conclusão abstrata, que é capaz de fazer-se de
cego e surdo somente para justificar sua lógica.
in 'Memórias do Subsolo'
"Ela não tardou a compreender que nós dois éramos seres
diferentes, e que eu... era um enigma. Mas era isso precisamente o que eu
queria, era isso o que eu procurava; parecer-lhe um enigma. Para obrigá-la a
adivinhar este enigma, talvez eu não pudesse ter precedido mais estupidamente
com ela do que precedi. [...] Eu estava sempre calado, sobretudo, quando estava
ao seu lado, calava-me, até o dia de ontem. Por que me calava eu? Porque sou
orgulhoso. Queria que ela me idolatrasse pela minha paixão... e era digno
disso. Oh, eu sempre fui orgulhoso, sempre desejei tudo... ou nada! E
precisamente por eu não querer uma miserável amostra de felicidade, mas uma
felicidade completa."
in 'Uma Doce Criatura'
Não, tenho uma vida apenas e nunca mais a terei, não quero,
pois, esperar pela "felicidade universal". Quero viver por mim mesmo,
se não é melhor não viver.
in 'Crime e Castigo'
"Sou um homem ridículo. Agora já quase me têm por louco [...]
Mas eu já não me aborreço por causa disso, agora já não guardo rancor a ninguém
e gosto de toda a gente, ainda que se riam de mim... sim, senhor; agora, não
sei por quê, mas sinto por todos os meus próximos uma ternura especial. Teria
muito gosto em acompanhá-los no vosso riso... não precisamente nesse riso à
minha custa, mas sim pelo carinho que me inspiram, se não me fizesse tanta pena
vê-los."
in 'O Sonho de Um Homem Ridículo'
"A tirania é um costume, possui a faculdade de desenvolver-se
e degenera, finalmente, numa doença. E afirmo que o melhor dos homens pode
embrutecer-se e embotar-se por efeito do hábito, até descer ao nível duma fera.
O sangue e o poder embriagam, engendram o embrutecimento, a insensibilidade;
tanto a inteligência como o sentimento acabam por achar isso natural e, por
fim, aprazíveis as manifestações mais anormais. O homem e o cidadão morrem para
sempre no tirano; é-lhe quase impossível regressar à dignidade humana, ao
arrependimento, a uma nova vida. Além disso, o exemplo, a possibilidade de tal
egoísmo faz aparecer também na sociedade um efeito nocivo: semelhante poder é
sedutor. A sociedade que contempla com indiferença esse espetáculo está minada
na base. Em resumo: o direito de impor castigos corporais, outorgado a um sobre
o outro, é uma praga da sociedade, é um dos meios mais poderosos para aniquilar
nela todo germe de civismo e a base completa para a sua dissolução inevitável e
infalível."
"Eu chorava de verdade e, tendo aberto a segunda parte do
romance, folhei-a ao acaso, procurando adivinhar algum sentido nas frases
soltas, que lia de quando em quando. Era como se quisesse adivinhar o futuro,
abrindo o livro ao acaso. Há momentos em que todas as forças da mente e da
alma, numa tensão doentia, como que se inflamam com a chama brilhante da
consciência, e então algo profético surge em sonho à alma abalada, que parece
enlanguescida com o pressentimento do futuro, experimentando-o antecipadamente.
E há uma grande vontade de viver, todo o nosso ser pede para viver, e,
inflamado com a esperança mais ardente, mais cega, o nosso coração parece
desafiar o futuro, com todo o seu mistério, com todo o desconhecido, ainda que
em tempestades e tormentas, contanto que seja vida. O meu momento foi
exatamente dessa natureza."
"Agora, perguntava-me de novo: amo-a? Ou melhor, respondi-me
novamente, pela centésima vez, que a detestava. Sim, odiava-a! Havia momentos
(sobretudo depois das nossas conversas) em que teria dado metade da minha vida
para estrangula-la! Juro-o. Se tivesse sido possível, ainda há momentos,
cravar-lhe no peito um punhal bem afiado, julgo que o teria empenhado de boa
vontade."
in 'O Jogador'
"Sabe, por exemplo, que a amo até a demência, permite-me até
falar-lhe da minha paixão, e naturalmente, não haveria um meio de expressar
mais intensamente o seu desprezo por mim do que com esta permissão de lhe falar
do meu amor, sem qualquer obstáculo ou contenção."
"Tenta uma experiência e constrói um palácio. Equipa-o com
mármore, quadros,
ouro, pássaros do paraíso, jardins suspensos, todo o tipo de
coisas…
E entra lá para dentro. Bem, pode ser que nunca mais
desejasses sair de lá.
Talvez, de fato, nunca mais saísses de lá. Tudo está lá!
"Estou muito bem aqui sozinho!".
Mas, de repente — uma ninharia! O teu castelo é rodeado por
muros,
e é-te dito: “Tudo isto é teu! Desfruta-o! Apenas não podes
sair daqui!".
Então, creia-me, nesse mesmo instante quererás deixar esse
teu
paraíso e pular por cima do muro. Ainda mais!
Todo esse luxo, toda essa plenitude, aumentará o teu
sofrimento.
Sentir-te-ás insultado como resultado de todo esse luxo…
Sim, apenas uma coisa te falta: um pouco de liberdade!
Um pouco de liberdade e um pouco de liberdade."
in "O Movimento de Liberação"
"Acima de tudo, não minta para você mesmo. O homem que mente
para ele mesmo e escuta sua própria mentira chega a um ponto que não sabe
distinguir a verdade dentro dele ou ao redor dele, e então perde todo respeito
por si mesmo e pelos outros. E não havendo respeito ele desiste de amar."
"É isso: tudo está ao alcance do homem e tudo lhe
escapa,
em virtude de sua covardia...
Já virou até axioma.
Coisa curiosa a observar-se: que é que os homens temem acima
de tudo?
- O que for capaz de mudar-lhes os hábitos: eis o que mais
apavora...
Porém falo demasiado e, por isso, não faço nada.
Ou, talvez, devesse dizer que não faço nada porque falo
muito.
Este mês, peguei a mania de monologar,
escondido durante dias inteiros, no meu canto,
imaginando... tolices."
in
Crime e castigo
"Dostoiévski é o único psicólogo com quem tenho algo a
aprender"
— disse o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche.
2 comentários:
Minha citação predileta do maior escritor russo e do século 19 é:
"Sou doente... Sou ruim. Não tenho atrativos. Sofro do fígado, acho. Não entendo lhufas da minha doença e não sei com certeza o que me dói. Não me trato, nunca me tratei, mas respeito médicos e a medicina. E sou supersticioso ao extremo; o bastante para respeitar a medicina. (Tenho instrução suficiente para não ser supersticioso, mas sou.) Não, senhores, se não quero me tratar é de raiva. Isso os senhores provavelmente não compreendem. Que assim seja, mas eu compreendo."
Vaccari,
E temos também Dostoiévski em comum além de LvB! Difícil encontrar pessoas que compactuam desse gosto seleto pelo que há de melhor. Grata por seu comentário. Acrescentarei sua citação à minha postagem e vou receber isso como um convite para reler Memórias do Subsolo. Um abraço!
"Naturalmente não vos saberei explicar a quem exatamente farei mal, no presente caso, com a minha raiva; sei muito bem que não estarei a "pregar peças” nos médicos pelo fato de não me tratar com eles; sou o primeiro a reconhecer que, com tudo isto, só me prejudicarei a mim mesmo e a mais ninguém. Mas apesar de tudo, não me trato por uma questão de raiva. Se me dói o fígado, que doa ainda mais". *FMD*
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